22/03/2013 - Pirão: põe o garfo aqui quem gosta
EDIÇÃO DE 22/03/2013 DA COLUNA COZINHA DE ESTAR/JORNAL NOTÍCIAS DO DIA, por Luciane Daux
Quer coisa mais nossa do
que comer pirão? D’água, de feijão, escaldado, de “nailo” (nylon), até bolinho
de pirão, sabores tão nossos e carregados de lembranças, e fazem companhia mais
do que perfeita a um peixinho frito ou a uma caldeirada de frutos do mar.
Feijoada e cozido sem pirão? Não é possível. Em homenagem aos 287 anos de Florianópolis, amanhã, e ao outono, que acabou
de chegar, pegue a nossa farinha de mandioca, branquinha e muito fina, e já pra cozinha!
De onde vem esse hábito?
A professora
Lélia Pereira da Silva Nunes, entre outras atividades intelectuais uma
estudiosa das nossas raízes açorianas, conta-nos que o hábito de comer pirão
não é da cultura dos nossos colonizadores, mas da indígena. No entanto, ela diz
que “conclui-se que os nossos ilhéus e seus ancestrais açorianos aqui chegados
cultivaram o hábito de comer farinha de mandioca e, sem dúvida, que a
excelência da nossa saborosa farinha se deve ao aperfeiçoamento do processo de
moagem de mandioca dos indígenas pelos povoadores açorianos, que eram
detentores de larga experiência com o trigo lá nos Açores, no Atlântico Norte.”
Leia ao final da página o texto completo.
Luciane Daux
Meu pirão
Meu pirão é
famoso e a dica é simples: ao contrário do pirão escaldado, desmancho primeiro
a farinha de mandioca em água fria, e só então levo a panela ao fogo, juntando
mais água ou o caldo do prato preparado, uma pitada de sal e tempero verde, se
for o caso. Fica lisinho e transparente. Olha o meu pirão com lingüiça frita,
que lindo!
Caldinhos do Ricardinho amanhã
Acontece
amanhã, no Clube Náutico Martinelli, o 13º Ricaldinho da Ilha, quando
comemoramos dois aniversários importantes: da nossa cidade e do meu querido colega
colunista do ND, Ricardinho Machado. Na festa, que se inicia às 11h, serão
servidos mais de 40 caldinhos, entre eles o de Cozido (acompanhado de farinha
de mandioca), receita do Nego Quirido que tradicionalmente faço neste dia. Camisetas-convite:
a R$ 100,00, à venda no Shopping Beiramar, Toca do Urso e Café Trajano.
Berbigão ensopado com pirão escaldado
1 kg de berbigão cozido e sem
casca
500g de berbigão com casca, bem
lavados
2 colheres (sopa) de óleo
1 cebola picada
2 tomates picados, sem sementes
1 dente de alho picado
2 colheres (sopa) de alfavaca
picada
Sal a gosto
Para o pirão:
1 xícara (chá) de farinha de
mandioca
700ml a 1l de água fervente
Sal a gosto
1.
No fogo médio, refogue a
cebola e o alho no óleo, até murcharem, e então acrescente o tomate picado.
2.
Quando o tomate já
estiver quase desmanchado, acrescente o berbigão com casca.
3.
Quando as conchas
estiverem abertas, junte o berbigão já cozido e sem casca, a alfavaca e mais
uma xícara (chá) de água. Acerte o sal e deixe ferver por 10 minutos.
4.
Enquanto isso, prepare o
pirão colocando a farinha de mandioca e sal a gosto numa bacia.
5.
Vá acrescentando a água
fervente aos poucos, misturando sempre com um garfo. Se desejar um pirão mais
mole, coloque mais água.
6.
Sirva, num prato de
sopa, o pirão escaldado e, sobre ele, o berbigão ensopado.
Luciane Daux
Bolinho de feijão
(Do caderno de receitas da minha mãe, feito com feijão da feijoada)
(Do caderno de receitas da minha mãe, feito com feijão da feijoada)
3 xícaras (chá) de feijão de
feijoada com bagos
½ xícara (chá) de farinha de
mandioca crua
½ colher (sopa) de fermento em
pó
Bacon picado e frito (opcional)
1.
Leve ao fogo o feijão da
feijoada. Quando ferver, junte meia xícara de farinha de mandioca e mexa, como
um pirão. Acrescente o fermento em pó.
2.
Deixe cozinhar bem até
soltar do fundo da panela.
3.
Desligue, deixe esfriar
e faça bolinhos.
4.
Frite-os em bastante
óleo quente até ficarem crocantes por fora.
O pirão d'água da sua mesa
Colaboração de Lélia Pereira da Silva Nunes
Um pirão d’água bem
escaldado quase transparente acompanhando uma pescada branca frita ou
assada é mesmo uma delícia. Aliás, não importa o nome do peixe o que importa
que tenha como acompanhamento o tradicional pirão d’água feito em água bem
quente –o “pirão escaldado” e que, muito recentemente, vem sendo também chamado
de “pirão de nylon” por causa da sua transparência.
O fato é que o “pirão” faz parte da
dieta alimentar do pescador, das famílias do nosso litoral catarinense ao longo
das gerações, que tiveram na sua formação cultural a contribuição dos
povoadores açorianos aqui chegados entre 1748 a 1756. Por isso é muito comum se
ouvir dizer que é um “costume açoriano”.
O que não é a mais
pura verdade. Mas, é bom esclarecer este “ ser ou não ser um costume de origem
açoriana.”
Na verdade, os nossos
povoadores açorianos do Século XVIII não trouxeram na sua bagagem o hábito de
comer farinha de mandioca porque nos Açores não tinham este costume. Eles não conheciam
a mandioca. E, até os dias de hoje não
têm este hábito. Então, de lá não veio…
Mas, temos a outra face da história... Que é o da contribuição no
hábito que ser tornou uma marca típica da comida do nosso ilhéu. Afinal,vem da
onde?
O uso da mandioca é uma herança da cultura indígena. Os
açorianos usavam o trigo. Chegaram aqui e tentaram muito cultivar o trigo que
era a base do seu sustento ao lado dos nhames, das batatas, dos peixes de alto
mar e da carne. Trouxeram na sua bagagem a tecnologia dos engenhos.
Infelizmente, não alcançaram o resultado esperado por eles e pelo Rei de
Portugal. Porque a nossa terra não era boa para o cultivo do trigo. Passaram a plantar a mandioca (hábito
alimentar indígena) e produziram uma farinha tão fina quanto o trigo. Basta
observar e constatar que a nossa farinha de mandioca é famosa em todo o Brasil
por sua qualidade e textura suave.
Assim, com os índios, aprenderam o uso da mandioca na
alimentação como o pirão d' agua (escaldado e frio), o bijú, o piroca (pirão
feito com leite) entre outros pratos e daí em diante foram desenvolvendo uma
culinária local tipica, misturando os seus saberes das nove ilhas vulcânicas do
além mar com os saberes dos nossos índios.
Tanto é a
“mais pura verdade” que em 1797 havia em Desterro
17 atafonas de moer trigo e 87 engenhos de mandioca. Por este dado se constata a insistência dos açorianos com o cultivo do trigo,a sua tradição cultural e a crescente transformação da mandioca em farinha, que era uma cultura nativa, herdada dos indígenas. Podemos dizer que os nossos engenhos de mandioca foram desenvolvido a partir da tecnologia dos indígenas no manejo da raíz mandioca com o know how dos moinhos de trigo dos açorianos.
17 atafonas de moer trigo e 87 engenhos de mandioca. Por este dado se constata a insistência dos açorianos com o cultivo do trigo,a sua tradição cultural e a crescente transformação da mandioca em farinha, que era uma cultura nativa, herdada dos indígenas. Podemos dizer que os nossos engenhos de mandioca foram desenvolvido a partir da tecnologia dos indígenas no manejo da raíz mandioca com o know how dos moinhos de trigo dos açorianos.
Conclui-se que os nossos ilhéus
e seus ancestrais açorianos aqui chegados cultivaram o hábito de comer farinha
de mandioca e, sem dúvida, que a
excelência da nossa saborosa farinha se deve ao aperfeiçoamento do processo de
moagem de mandioca dos indígenas pelos povoadores açorianos, que eram detentores
de larga experiência com o trigo lá nos Açores, no Atlântico Norte.
Comentários
Postar um comentário